quarta-feira, 27 de abril de 2011

A História de Antônio

    Certa vez, estudei em um colégio municipal de Salvador. Foi lá que conheci um garoto chamado Fabiano, ele era um grandalhão e gostava de fazer brincadeiras com os outros, sempre pregando peças.
Também havia o Antônio que era sempre quieto e reservado.
                                                           
    Ele costumava comer sempre sozinho e não participava das brincadeiras após o lanche. Diante de seu comportamento Antônio era alvo natural das piadas do grupo. Ora ele encontrava uma barata no seu lanche, ora encontrava uma surpresa desagradável em sua mochila e o mais estranho era que ele sempre aceitava aquilo sem ficar bravo.
    Em certo passeio, no qual Antônio não participou, pescamos vários peixes e no final da pescaria dividimos os peixes para cada um. Foi aí que Fabiano teve a ideia de fazer uma brincadeira com Antônio pegando a pior parte dos peixes e colocando em um grande pacote. No dia seguinte na hora do lanche Fabiano distribuiu as marmitas e cada um de nós que recebia via uma bela porção de peixe e agradecia.

    Por último ficou a marmita de Antônio, todos nós já sabíamos o que o esperava.  Ele, como de costume, não era de muitas palavras, pegou a sua e com um grande sorriso começou a falar:

- Sabia que você não se esqueceria de mim Fabiano. Sempre soube que no fundo você tem um bom coração. Sei que não tenho sido muito participativo com vocês, mas nunca foi minha intenção. Sempre sentei afastado na hora do lanche porque nunca tinha o que comer, muitas vezes minha marmita mal tinha um pedaço de batata.

- Eu tenho três irmãos pequenos, uma mãe inválida e estou ciente que ela nunca mais vai melhorar. Mas agora fico feliz, pois quero que saibam que essa porção de peixe representa realmente muito para mim, pois hoje à noite eles vão ter o que comer. -  Limpando as lágrimas dos olhos ele começou a abrir a sua marmita, era pra ser algo engraçado, mas ninguém riu.

    Foi quando Antônio teve uma grande surpresa avistando aquelas espinhas, vísceras e peles de peixe. Nesse momento, ele percebeu tudo e a raiva o consumiu, porém ele se conteve e se retirou sem dizer uma palavra.

    No dia seguinte estávamos tomados pela culpa, pois tivemos naquele fatídico momento uma pequena ideia do “porque” de Antônio ser daquele jeito. Comandados por Fabiano, levamos todos os peixes pescados para a casa de Antônio e preparamos um grande banquete para a sua família.

     Quando Antônio chegou a sua casa teve uma grande surpresa ao ver sua mesa farta e sua família satisfeita. Ficou muito maravilhado ao perceber quem preparou tudo.
Foi um dia de muita alegria e de reconciliação o que marcou o início de grandes amizades.